Grupo Amigos da Rosana.
Alexandra, Beatriz, Fernanda, Gilson, Rosana e Thaís
Questão de igualdade
HÉLIO SCHWARTSMAN
SÃO PAULO - De
Barack Obama a Woody Allen, passando pelo "black bloc", todo mundo
resolveu imprecar contra a desigualdade. Há um interessante debate econômico
sobre as repercussões sociais de diferenças crescentes entre a renda dos mais
pobres e a dos mais ricos.
Para os teóricos mais à direita, a
disparidade não chega a ser um problema. Desde que não haja miséria e os mais
pobres tenham assegurada uma existência digna, a desigualdade funciona até como
um motor da economia. É para comprar um carrão melhor do que o do vizinho que o
sujeito se dispõe a trabalhar mais.
Economistas mais à esquerda,
entretanto, afirmam que, quando a diferença entre a maior e a menor remuneração
cresce demais, a mobilidade social fica emperrada, o que gera uma série de
problemas. Sistemas que beneficiam apenas uma elite, além de fracassar em seu
compromisso democrático, carregam as sementes de sua própria destruição.
Nessa discussão, sou agnóstico e penso
até que os dois lados podem estar certos. Mas há uma questão anterior, como
coloca o filósofo Stephen Asma em "Against Fairness", que já comentei
numa coluna on-line.
Para Asma, seres humanos estamos
biologicamente programados para favorecer os próximos. O amor é
discriminatório, diz. Se mães não protegessem suas crias, mamíferos e aves
seriam inviáveis. Esse pendor simplesmente não combina com as exigências
republicanas que nos impomos, ocasionando paradoxos. Acertadamente condenamos o
juiz que contrata parentes para seu gabinete, mas também recriminamos o
empresário de sucesso que deixa de empregar seu irmão necessitado.
Uma igualdade estrita exigiria que eu
dê a meu filho o mesmo valor que atribuo ao filho de um desconhecido e que
dispense ao mendigo o tratamento que concedo a um amigo. Para Asma, éticas
consequencialistas, centradas na igualdade, têm algo de profundamente desumano.